Bem-te-vi que estás cantando
nos ramos da madrugada,
por muito que tenhas visto,
juro que não viste nada.
Não viste as ondas que vinham
tão desmanchandas na areia,
quase vida, quase morte,
quase corpo de sereia...
E as nuvens que vão andando
com marcha e atitude de homem,
com a mesma atitude e marcha
tanto chegam como somem.
Não viste as letras, que apostam
formar ideias com o vento...
E as mãos da noite quebrando
os talos do pensamento.
Passarinho tolo, tolo,
de olhinhos arregalados...
Bentevi, que nunca viste
como os meus olhos fechados...
Cecília Meireles, em Viagem
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