folhas de outono

24 de abr. de 2010

Carlos Drummond de Andrade

Por que Deus permite que as mães
vão-se embora?
Mãe não tem limite, é tempo sem
hora, luz que não apaga quando
sopra o vento e chuva desaba.
Veludo escondido na pele enrugada,
água pura, ar puro, puro pensamento.
Morrer acontece com o que é
breve e passa sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça, é eternidade.
Por que Deus se lembra, mistério
profundo, de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo, baixava
uma lei:
_Mãe não pode morrer nunca, mãe ficará
sempre junto de seu filho.
E ele, velho embora, será
pequenino feito grão de milho.


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